segunda-feira, 30 de agosto de 2010

FUGIR DO BARULHO.....


 
“(…) Precisamos de encontrar Deus, e não é na agitação nem no barulho que poderemos encontrá-Lo. Deus é o amigo do silêncio. Em que tamanho silêncio não crescem as árvores, as flores e a erva! Em que tamanho silêncio não se movem as estrelas, a lua e o sol! Não é nossa missão dar Deus aos pobres dos casebres? Não um Deus morto, mas um Deus vivo e que ama. Quanto mais recebermos na oração silenciosa, mais podemos dar na nossa vida activa. Precisamos de silêncio para sermos capazes de tocar as almas. O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz através de nós. Todas as palavras que dissermos serão vãs se não vierem do mais íntimo; as palavras que não transmitem a luz de Cristo aumentam as trevas.
Os nossos progressos na santidade dependem de Deus e de nós próprios, da graças de Deus e da própria vontade que temos de ser santos. Temos de assumir o compromisso vital de atingir a santidade. «Quero ser santo» significa: quero desligar-me de tudo o que não é Deus, quero despojar o coração de todas as coisas criadas, quero viver na pobreza e no despojamento, quero renunciar à minha vontade, às minhas inclinações, caprichos e gostos, e tornar-me o dócil servo da vontade de Deus” (Beata Teresa de Calcutá).

domingo, 29 de agosto de 2010

21 anos da Comunidade Doce Mãe de Deus

A CRUZ É PARA NÓS COMO O SOL!



























Caríssimos irmãos e irmãs da Comunidade Doce Mãe de Deus, queridos irmãos e irmãs fiéis em Cristo Jesus. Nesse Domingo festivo somos convidados por Deus a celebrar com alegria e humildade o memorial da nova aliança e a dar graças a Deus por Jesus Cristo, pelos 21 anos da Comunidade Doce Mãe de Deus.  Aproximemo-nos de sua presença viva na Eucaristia e digamos com alegria e gratidão: “O Senhor fez em nós maravilhas, grande é o seu nome”. Esse é o grito de louvor de Maria, a Doce Mãe, e esse, com toda certeza, é o louvor dos primeiros de nossa Comunidade (Inaldo Alexandre da Silva, Ir. Marliane de Andrade Cavalcante, Iara Alexandre da Silva e Ir. Roselir Gonzaga de Brito) que deixaram tudo e seguiram os passos de Jesus. Também esse deve ser o nosso louvor, nós que somos frutos desse novo carisma ainda nascente: consagrados, irmãs e irmãos celibatários, irmãos casados, diácono e padres.

As leituras de hoje são providenciais, pois nos falam da escolha de Deus pelos pequenos, pelos humildes e pelos pobres de Deus. No Livro do Eclesiástico, o autor sagrado vem nos mostrar que a verdadeira modéstia nos leva para Deus enquanto os altaneiros e os ilustres são confundidos. Aos humildes são revelados os mistérios de Deus, enquanto aos soberbos e aos orgulhosos, cegados pelo pecado, não há compreensão da vontade divina. Irmãos e irmãs, Deus se revela na fraqueza e na pequenez, e a grande sabedoria está em fazer unicamente a vontade do Pai, expressa em Jesus, o Deus visível. A nós, templos de Deus e vasos de argila, é feita uma promessa que está no refrão do salmo de hoje, que se concretiza ao buscarmos o Senhor com um coração sincero: “com carinho preparaste uma mesa para o pobre” (Sl 67). Esta pobreza evangélica que professamos com tanta determinação em nossa consagração, deve nos levar a viver com plena liberdade e gratuidade. Está aí a nossa grande riqueza, como nos diz o nosso estatuto de vida: “A pobreza nos leva á riqueza”.
Na segunda leitura, o autor da carta aos hebreus nos lembra que nós não nos aproximamos de uma realidade palpável “fogo ardente e escuridão, trevas e tempestades, som da trombeta e voz poderosa”, mas nos aproximamos de Jesus, o Deus vivo, o Juiz de todos, o mediador da nova aliança. Temos grande experiência de Deus em Jesus, o Filho unigênito, aquele que nasceu no presépio, viveu entre nós, morreu crucificado e ressuscitou ao terceiro dia.
Na Eucaristia temos a maior experiência de amor com Deus, pois experimentamos a força da sua ressurreição e sua predileção para conosco, nela temos a plena certeza que nossos nomes estão escritos no livro da vida.
No evangelho de São Lucas, Jesus nos mostra a nova realidade onde, aqueles que procuram os primeiros lugares, são convidados a deixarem estes lugares aos últimos do reino, ou seja, aqueles que servem; pois aqueles que se elevam serão humilhados enquanto os humilhados serão exaltados. Como nos fala Jesus no Evangelho, a nossa recompensa, irmãos e irmãs, não é a dos homens e sim a de Deus: a ressurreição dos justos. Por isso, não esperemos demasiadamente os elogios dos homens da sociedade ou dos homens e das mulheres da Igreja ou até mesmo dos irmãos e das irmãs da Comunidade Doce Mãe de Deus. Seremos felizes se fizermos tudo por amor e gratuidade, mas nem por isso podemos esquecer de dizer “muito obrigado” por um bem recebido de um irmão ou irmã, principalmente no dia de hoje pelo sim de cada um.

São Francisco fez esta opção evangélica do não ter nada de material e de ter a Deus como a única riqueza. Por isso, ele foi considerado o homem mais feliz que já existiu nesta terra. Aquele que vivia em função dos irmãos por amor ao grande Deus, o Altíssimo, o Onipotente. Como nos diz os seus escritos, que lemos quase que diariamente em nossas casas, o trono que foi preparado para Lúcifer (Anjo da luz), que foi expulso do céu por causa do seu grande orgulho, foi dado ao pobrezinho de Assis por causa de sua grande humildade, segundo uma visão de um irmão franciscano.

Nos tempos de hoje é possível viver assim? Esta é a grande pergunta que muitos fazem. Olhando para o Cristo pobre podemos dizer que sim! Viver de maneira simples, se reconhecendo como um homem e uma mulher totalmente dependente de Deus como Santa Clara, que nos últimos momentos de sua vida se alimentava apenas da Eucaristia, o grande Deus da vida.

Olhando hoje para a nossa Comunidade, muita coisa já mudou. A estrutura física, mais irmãos e irmãs, novas casas de missão no Brasil e na França. Mais uma coisa não pode mudar em nós, aquilo que é essencial em nossa vida como comunidade consagrada, o nosso amor a Deus. Acima de tudo, devemos amá-lo de todo coração e não trocá-lo por nada neste mundo, nem por coisas ou pessoas. Cada um, no seu estado de vida, não pode perder este grande amor encontrado, este amor revelado por Jesus que nos leva viver o simples da vida com gratuidade e gratidão. Irmãos e irmãs, contemplemos a imagem dos quatro primeiros se alimentando no chão sobre uma toalha estendida, os pratos no chão, os talheres colocados com tanto zelo e carinho e o amor dos primeiros pela evangelização. Contemplemos o coração missionário do nosso fundador que com tantas palavras de sabedoria e tanto cuidado pelos irmãos faz crescer esta obra que é de Deus. Ele, que nunca quis ficar nos “primeiros lugares”, mas que foi colocado pelo próprio Deus a frente de um povo. Poderia ter sido outro fundador, um padre ou um bispo ou um doutor. Mas Deus escolheu um “carioca-goiano-paraibano”, comedor de “piquí” e de “jurubeba”. Um homem feliz que contagia a todos com a sua alegria para manifestar a grandeza de Deus no meio dos homens. Pai de família e pai de uma vocação com tantos filhos doutos ou não, leigos e clérigos, homens e mulheres que querem viver como testemunhas do grande mistério da salvação de Cristo pelo amor da santa cruz.

Inaldo, Ir. Marliane, Iara e Ir. Roselir, somos gratos pelo sim que vocês deram por amor a Deus. Que o Deus da vida recompense vocês por tão grande coragem de enfrentar tudo que passaram.  Que São João Batista rogue a Deus por nós e pelo nosso sim, como vocação, até o fim de nossas vidas como verdadeiras testemunhas, como profetas. Que outros irmãos e irmãs possam fazer parte desta grande família, família de Deus, consagrados e consagradas Doce Mãe de Deus.


Deus abençoe a todos.

Monsenhor  José André  da Silva Anselmo
Membro consagrado de vida - Doce Mãe de Deus

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A busca da Verdade e a importância do silêncio.

Caríssimos irmãos e irmãs,
Na vida de cada um de nós existem pessoas muito queridas, que sentimos particularmente próximas, algumas já estão nos braços de Deus, outras ainda partilham conosco o caminho da vida: são os nossos pais, os parentes, os educadores, as pessoas a quem fizemos bem ou de quem recebemos o bem; são pessoas com quem sabemos que podemos contar. É importante, entretanto, ter também alguns “companheiros de viagem” no caminho de nossa vida cristã: penso no Diretor espiritual, no Confessor, nas pessoas com quem se pode compartilhar a experiência de fé, mas penso também na Virgem Maria e nos Santos. Todos devem ter algum santo que lhe seja familiar, para senti-lo próximo por meio da oração e intercessão, mas também para imitá-lo. Gostaria de convidar, então, a um maior conhecimento dos Santos, começando por aquele de quem se leva o nome, lendo sua vida, seus escritos. Tenham certeza de que eles se tornarão bons guias para amar ainda mais o Senhor e uma válida ajuda para o crescimento humano e cristão.
Como sabem, eu mesmo estou ligado de modo especial a algumas figuras dos Santos: entre eles, estão São José e São Bento, de quem levo o nome, e outros, como Santo Agostinho, que tive o grande dom de conhecer, por assim dizer, muito de perto, através do estudo e da oração, e que se tornou um bom “companheiro de viagem” na minha vida e no meu ministério.
Gostaria de sublinhar uma vez mais um aspecto importante da sua experiência humana e cristã, atual mesmo em nossa época, em que parece que o relativismo é, paradoxalmente, a “verdade” que deve guiar o pensamento, as escolhas, os comportamentos. Santo Agostinho é um homem que nunca viveu com superficialidade; a sede, a busca inquieta e constante da Verdade é uma das características fundamentais de sua existência; não, porém, das “pseudo verdades” incapazes de levar paz duradoura ao coração, mas daquela Verdade que dá sentido à existência e é “a morada” em que o coração encontra serenidade e alegria.
O caminho dele não foi fácil, nós sabemos: pensava em encontrar a Verdade no prestígio, na carreira, na posse das coisas, nas vozes que lhe prometiam felicidade imediata; cometeu erros, atravessou a tristeza, enfrentou insucessos, mas nunca parou, nunca se satisfez com aquilo que lhe dava apenas um vislumbre de luz; soube perscrutar o íntimo de si e percebeu, como escreve nas Confissões, que aquela Verdade, que o Deus que buscava com suas próprias forças era mais íntimo de si que ele próprio, ele sempre esteve ao seu lado, nunca o tinha abandonado, estava à espera de poder entrar de modo definitivo na sua vida (cf. III, 6, 11; X, 27, 38). Como dizia ao comentar o recente filme sobre sua vida, Santo Agostinho compreendeu, em sua busca inquieta, que não era ele quem havia encontrado a Verdade, mas a própria Verdade, que é Deus, tinha-o buscado e encontrado (cf. L’Osservatore Romano, quinta-feira, 4 de setembro de 2009, p. 8). Romano Guardini, comentando uma passagem do terceiro capítulo das Confissões, afirma: Santo Agostinho percebe que Deus é “glória que se ajoelha, bebida que mata a sede, o amor que traz felicidade, [... ele era] a pacificante certeza de que finalmente tinha compreendido, mas também a beatitude do amor que sabe: isto é tudo e me basta” (Pensatori religiosi, Brescia 2001, p. 177).
Também nas Confissões, no livro nono, nosso Santo reporta uma conversa com a mãe, Santa Mônica, cuja memória se celebra na próxima sexta-feira, depois de amanhã. É uma cena muito bonita: ele e sua mãe estão em Ostia, em um hotel, e da janela veem o céu e o mar, transcendem céu e mar, e por um momento tocam o coração de Deus no silêncio das criaturas. E aqui surge uma ideia fundamental no caminho para a Verdade: as criaturas devem silenciar, deve prevalecer o silêncio, em que Deus pode falar. Isso é verdade ainda mais em nosso tempo: há uma espécie de medo do silêncio, do recolhimento, do pensar as próprias ações, do sentido profundo da própria vida, frequentemente se prefere viver o momento fugaz, iludindo-se de que traz felicidade duradoura, prefere-se viver assim pois parece mais fácil, com superficialidade, sem pensar; há medo de buscar a Verdade ou talvez haja medo de que a Verdade seja encontrada, que agarre e mude a vida, como aconteceu com Santo Agostinho.
Caríssimos irmãos e irmãs, gostaria de dizer a todos, também àqueles que vivem um momento de dificuldade no seu caminho de fé, aos que participam pouco da vida da Igreja ou aos que vivem “como se Deus não existisse”, que não tenham medo da Verdade, não interrompam o caminho para ela, não deixem de buscar a verdade profunda sobre si e sobre as coisas, com os olhos interiores do coração. Deus não falhará em oferecer a Luz para fazer ver e Calor para fazer sentir, ao coração que ama e que deseja ser amado.
A intercessão da Virgem Maria, de Santo Agostinho e de Santa Mônica os acompanhe neste caminho.

Discurso do Papa Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, no pátio da residência pontifícia de Castel Gandolfo [Traduzido do original italiano por Alexandre Ribeiro.]

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Celibato dos padres: repressão, egoísmo ou amor?

Presbitério do Centro de Formação Discípulo Amado na Comunidade Doce Mãe de Deus
 
No dia 13 de junho de 1525, o ex-monge Martinho Lutero casou com a ex-freira Catarina von Bora. De acordo com suas palavras, «assim como não está em meu poder deixar de ser homem, também não está em meu poder ficar sem mulher. O mesmo princípio vale para a mulher. Não se trata de livre escolha ou decisão, mas de algo necessário e natural. Quem é homem tem de ter uma esposa, e quem é mulher tem de ter um marido».
Ao comentar a palavra de Jesus – «há pessoas que não casam pelo Reino de Deus» (Mt 19,12) –, Lutero afirma que «elas existem, mas são raras. Ninguém deve tomar a iniciativa de seguir por este caminho, senão unicamente por um chamado especial de Deus, ou seja, que sinta a graça de Deus tão forte dentro de si, que o mandamento “crescei e multiplicai-vos” não lhe diga respeito».
Contudo, depois de ter feito a experiência do casamento, Lutero percebeu que, se não houver uma maturidade humana e cristã, ele não resolve nenhum dos problemas afetivos e sexuais que inquietam as pessoas, tanto que muitas delas casam e descasam sem nunca encontrar a solução das angústias existenciais que as atormentam: «A vida matrimonial não é assunto para brincadeira ou curiosidade atrevida, mas algo excelente e matéria de divina seriedade. O casal precisa conviver em amor e concórdia, para que um queira o outro de coração e com fidelidade integral. Onde houver esse cuidado, a castidade será espontânea, e não uma obrigação imposta».
Podemos concordar ou discordar de muitas das afirmações do líder da Reforma, menos de uma delas, inculcada desde as primeiras páginas da Bíblia: «Não é bom que o ser humano fique sozinho» (Gn 2,18). Mas, será que esta palavra de Deus se refere sempre, ou somente, ao cônjuge? Há casados que se sentem sozinhos, na mais profunda solidão... De outro lado, são milhões as pessoas que se realizaram plenamente no celibato.
A resposta é outra: quem realiza o homem, criado à imagem de um Deus que é comunhão, é sempre e somente o amor. Quanto mais ele for verdadeiro, maior a realização humana. Se os laços do sangue não são sempre suficientes para garantir e perpetuar essa união, muito menos o serão o instinto sexual e a carência afetiva.
É o que pensa também o Papa Bento XVI: para não se identificar com repressão e egoísmo, o celibato precisa ser alimentado por um amor sem medidas: «O sacerdote deve conhecer verdadeiramente Deus a partir de dentro e, assim, levá-lo aos homens. Este é o serviço prioritário que a humanidade atual busca e precisa. Se se perde esta centralidade de Deus na vida sacerdotal, esvazia-se pouco a pouco também o zelo pela missão. No excesso das coisas externas, falta o centro que dá sentido a tudo e o reconduz à unidade. O celibato pode ser compreendido e vivido só por essa orientação de fundo. As razões pragmáticas, a referência à maior disponibilidade, não são suficientes. Esta maior disponibilidade de tempo poderia facilmente tornar-se uma forma de egoísmo, que se poupa aos sacrifícios e às fadigas exigidas pelo aceitar-se e suportar-se reciprocamente no matrimônio; poderia até levar a um empobrecimento espiritual, a uma dureza do coração. O verdadeiro fundamento do celibato está contido apenas na frase: Tu, Senhor, és a minha herança e a minha taça (Sl 16, 5)».
Como se percebe, para Lutero e Bento XVI o celibato é feito para quem consegue dizer com o coração: «Deus me basta para ser feliz!». Ambos fundamentam suas palavras na doutrina de São Paulo, para quem a única razão do celibato é a «dedicação integral ao Senhor, sem outras distrações» (1Cor 7,35). Mas isso só acontece quando se busca um conhecimento vital de Deus – e não apenas teórico e abstrato –, a exemplo de Jó, que repetia, depois de longos anos de sofrimento: «Antes, eu conhecia o Senhor apenas por ouvir dizer. Agora, porém, o vejo com meus próprios olhos» (Jó 42,5). Se faltar este contato íntimo com o Senhor, é mais prudente seguir o conselho de São Paulo: «Se não consegues conter-te, casa, pois é melhor casar do que queimar» (1Cor 7,9). Em todo o caso, o amor a Deus e aos irmãos deve ser, no mínimo, tão forte quanto são as exigências da carne e as tentações da sociedade atual – umas e outras cada dia mais acentuadas e sorrateiras. Foi essa realidade que levou o cardeal Carlos Maria Martini, arcebispo emérito de Milão, a afirmar com a sabedoria que a experiência lhe concedeu: «Esta forma de vida é muito exigente; ela pressupõe profunda religiosidade, uma vida comunitária sadia, uma personalidade forte e, sobretudo, vocação ao celibato».


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por
CNBB

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vontade de Deus: escravidão?

 
Ao conhecer a Deus, conheço também a sua Vontade para mim e conhecendo-a, devo cumpri-la. Como pode existir liberdade em uma relação como essa? Como podemos dizer que Deus nos ama e nos deixa livre, se já possui uma vontade para nós? Onde está o amor? A Vontade de Deus é uma escravidão? Fazemo-la e pronto?
Permitamo-nos voltar ao primeiro anúncio, ao anúncio do Amor de Deus: Deus criou tudo com perfeição e após criar todas as coisas, “viu que tudo era bom” (cf. Gn 1). Criou em particular o homem e o dotou de liberdade. Mas este homem decidiu pecar (utilizando de sua liberdade), aceitando o convite da serpente de “ser como deuses”. Aí começou a existir a escravidão. A maior escravidão do homem é o pecado, que ele mesmo escolhe. O homem torna-se fraco, ou seja, não é mais livre o suficiente para decidir-se pelo melhor para si, mas sofre agora porque a sua liberdade está sujeita a alimentar a sua fraqueza e fazê-lo cada vez mais infeliz. É aqui, nesta condição, que Deus deseja manifestar a todo homem a sua Vontade, que não escraviza, mas, ao contrário, devolve a liberdade, aquela que ficou comprometida por causa do pecado.
A Vontade de Deus vai se revelando de forma suave e libertadora na vida daqueles que tiveram uma experiência verdadeira com Seu amor. O amor aqui não é somente um sentimento, que sem duvida é um maravilhoso impulso inicial, mas o amor toca o individuo no todo, desde o sentimento até a união das vontades.
Só se poder falar de Vontade de Deus para quem teve esta experiência, pois quando descobrimos que Deus é Amor (cf. 1 Jo 4,8), entendemos também que é próprio do amor querer o melhor para o amado. Estranho seria o amor de Deus se simplesmente nos criasse e nos deixasse entregue à força de nossas paixões. Estaríamos, assim, destinados a uma vida voltada somente para nós mesmos, sendo aquilo para o qual não fomos criados e nunca podendo nos realizar plenamente.
“A história do amor entre Deus e o homem consiste precisamente no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, o nosso querer e a vontade de Deus coincidem cada vez mais: a vontade de Deus deixa de ser para mim uma vontade estranha que me impõem de fora os mandamentos, mas é a minha própria vontade, baseada na experiência de que realmente Deus é mais íntimo a mim mesmo de quanto o seja eu próprio” (Deus caritas est, 17. Grifo nosso)
Deus, por amor, deseja fazer conhecida a Sua Vontade. Aqui, entramos no mistério da VOCAÇÃO. Quando compreendemos o amor de Deus, vemos a grandeza de sermos chamados a uma vocação. Que privilégio! Deus me chama. Agora não é mais um peso, não é uma obrigação fazer a vontade de Deus, mas nós, livremente, optamos pela nossa liberdade, e nela encontramos também a nossa felicidade.
É por isto que tantas vezes vemos o apelo dos santos que dizem: “vontade de Deus, meu paraíso”. Do Santo Padre, Bento XVI: “Deus não tira nada, dá tudo” e de outros que nos encorajam: “Se sentirdes o chamado do Senhor, não o recuseis” (João Paulo II).
Se você que lê esse artigo sente o chamado de Deus para uma vocação específica, coragem! Vale a pena optar pela eternidade já aqui na terra. Vale a pena ser feliz.

Comunidade Shalom

sábado, 14 de agosto de 2010

COMO DEVEMOS AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO...



“Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas”. (Mt 22,34-40).

“Presta atenção, caríssima alma serva de Jesus Cristo, que amor o teu amado Jesus exige de ti. Que farás para amar teu Deus de todo o teu coração? Ouve São João Crisóstomo ensinar-te: ‘Amar a Deus de todo o coração significa não teres o coração inclinado ao amor de coisa alguma mais do que Deus, não te deleitares na figura deste mundo nem nas honras, nem nos pais, mais do que em Deus’.” (Do opúsculo De Perfectione Vitae, de São Boaventura, bispo).

“Não somente de todo o teu coração, mas ainda de toda a tua alma hás de amar o Senhor Deus Jesus Cristo. Como de toda a alma? Santo Agostinho te instrui: ‘Amar a Deus de toda a alma consiste em amá-lo de toda a vontade, excluindo qualquer coisa contrário’. É certo que amas de toda a alma, quando fazes de boa vontade, sem contradição, não o que queres nem o que aconselha o mundo nem o que sugere a carne, o que sabes querer o Senhor, teu Deus. Seguramente amas a Deus de toda a alma, quando por amor de Jesus Cristo expões de bom grado à morte, se necessário, a tua vida”. (Do opúsculo De Perfectione Vitae, de São Boaventura, bispo).

Não apenas de todo o coração, não só de toda a alma, mas ainda de toda a mente ama a teu Esposo, o Senhor Jesus. Como de toda a mente? De novo, Santo Agostinho ensina: ‘Amar a Deus de toda a mente é amar a Deus de toda a memória, sem esquecimento’.” (Do opúsculo De Perfectione Vitae, de São Boaventura, bispo).

E QUANTO O AMOR AO PRÓXIMO?

Ouçamos São Paulo: ”Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros. Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus”. (Fil. 2,1-5).

Frei Fernando